“Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações”. Hebreus 3:7-8
As circunstâncias peculiares nas que agora nos encontramos como congregação exigem de mim que meus discursos sejam dirigidos principalmente aos não convertidos, com o objetivo de que aqueles que despertaram se decidam, que os que seguem sendo impassíveis sejam despertados, e para que em nossa volta se propague um desejo de se buscar ao Senhor. Podemos deixar nesse momento as noventa e nove ovelhas no deserto durante um breve tempo para irmos atrás da ovelha que se perdeu. Usualmente é nosso dever alimentar os filhos, mas podemos deixar isso para outras agências durante um tempo, para que possamos distribuir alimento aos que perecem de fome. Essas épocas de avivamento não duram para sempre; vem e vão, portanto, elas precisam ser aproveitadas ao máximo enquanto estão conosco. O lavrador nos diz que se deve preparar o feno enquanto o sol brilha, e nós também devemos nos ocupar no trabalho indicado em cada temporada, e a mim me parece que esse dever aponta agora na direção dos indecisos. Enquanto Deus fale com tamanho poder, devemos rogar aos homens que ouçam Sua voz. Claramente é sábio que digamos: “Amém” ao que Deus disse, pois quando nossa palavra concorda com a do Senhor temos a segurança de que ela será frutífera, já que Sua palavra não pode voltar para Ele vazia. Portanto, o tema de meu sermão essa manhã será de nosso autor de hinos –
“Ouçam a Deus enquanto Ele fala; por isso ouçam-no hoje;
E orem enquanto Ele ouve, orem incessantemente.
Creiam em Sua promessa, confiem em Sua palavra,
E quando Ele manda, obedeçam Seu grande Senhor.”
Escolho meu texto com a viva esperança de que Deus o abençoe, e espero que o povo do Senhor batize o texto em torrente de ansiosas lágrimas pelos não convertidos.
I. O primeiro ponto que temos para nossa consideração é: A VOZ ESPECIAL DO ESPÍRITO SANTO. “Como o Espírito Santo diz: Se ouvires hoje sua voz.” O apóstolo cita o Antigo Testamento; mas não é frequente que cite dessa maneira particular. No próprio capítulo que segue, referindo-se a mesma passagem, ele usa a expressão: “Dizendo… por meio de Davi,” e menciona o autor humano do Salmo; porem, nesse caso, para dar ênfase especial à verdade, cita unicamente o autor divino: “Como diz o Espírito Santo.” É certo que essas palavras são aplicáveis a toda passagem da Escritura, pois podemos dizer a respeito de todos os livros inspirados: “Como disse o Espírito Santo”; porem, aqui se usa intencionalmente isso para que a passagem tenha um maior peso para nós, pois, de fato, o Espírito Santo não somente fala assim no Salmo 95, mas que constitui uma invariável expressão Sua. O Espírito Santo disse, ou segue ainda dizendo: “Ouçam hoje sua voz.” Ele revelou certa doutrina em uma ocasião e uma verdade ainda mais profunda em outra oportunidade, segundo era necessário, ou segundo Seu povo estivesse preparado para elas; porem, essa asseveração particular é para todo tempo e para cada dia de graça. O Espírito Santo, por meio de Paulo[1], como antes por meio de Davi, disse: “Hoje”. Sim, essa é a carga que ainda coloca sobre Seus servos ministrantes. Em todo lugar eles rogam e persuadem aos homens dizendo “Se ouvires hoje sua voz, não endureçais vossos corações”.
Como o Espírito Santo fala dessa forma? Primeiro, Ele fala nas Escrituras. Cada mandamento da Escritura exige uma obediência imediata. A lei de Deus não nos é dada para ser posta em uma gaveta e para que a obedeçamos em algum tempo futuro da vida; o Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo tampouco tem por meta que lhe prestemos atenção na hora undécima e que o desatendamos durante as primeiras dez horas. Sempre que o Espírito Santo exorta, Ele fala no tempo presente, Ele manda que nos arrependamos agora, ou que creiamos agora, ou que busquemos agora ao Senhor. Eu lhes suplico que cada vez que leiam a Bíblia, recordem sempre que é o Espírito do Deus vivente quem ali os exorta a render uma obediência imediata. Os chamados da palavra inspirada não são de Moisés, Davi, Paulo ou de Pedro, antes são as solenes afirmações do Espírito Santo que fala através deles. Quanta dignidade essa verdade confere à Santa Escritura, e com que solenidade reveste nossa própria leitura dela! Contristamos o Espírito Santo colocando reparos enganosos à Escritura, tratando ela com irresponsabilidade, rebatendo suas doutrinas ou descuidando de suas admoestações; e isso é entrar em um terreno muito perigoso, pois ainda que Ele é paciente e compassivo, recordem que do pecado contra o Espírito Santo se afirma: “Nunca será perdoado”. Nem todo pecado contra o Espírito Santo é imperdoável; demos graças a Deus por isso; mas existe um pecado contra o Espírito Santo que não será perdoado jamais, portanto, quando o vejamos, estamos pisando em um terreno muito delicado, e isso fazemos se no momento de ler Sua palavra consideramos que Seus ensinos são assuntos triviais. Cuidem-se, digo-lhes, varões da Inglaterra, vocês que contam com Bíblias em seus lares e entre os quais a palavra do Senhor abunda como o pão, cuidem-se do tratamento que dão a Palavra, pois, ao rejeitare-na, não só estão rejeitando a voz dos apóstolos e dos profetas, mas sim a própria voz do Espírito Santo. O Santo Espírito diz: “Hoje”. Ele manda que Seu povo se apresse e que não se demore em guardar os mandamentos de Deus, e ordena aos pecadores que busquem ao Senhor enquanto Ele possa ser achado, e que o invoquem enquanto está perto. Ó, que vocês ouçam Sua voz de advertência para que vivam.
Ademais, se bem o Espírito Santo fala na Escritura nesse sentido, Ele também fala de igual forma nos corações de Seu povo, pois Ele é um agente vivo e ativo. Sua obra não terminou. Ele ainda fala e escreve; a pluma ainda está em Sua mão, não para escrever com tinta sobre papel, mas sim nas tábuas de carne de corações preparados. O Espírito de Deus tem estado agora nessa igreja comunicando-se com Seu povo, e o teor da comunicação tem sido essa: “Busquem ganhar almas”, e eu lhes garanto essa asseveração: que em nenhum caso o Espírito disse: “busquem a conversão dos pecadores no fim do ano; preocupem-se pela salvação de suas almas quando tenham amadurecido em anos e em juízo”; antes, cada homem e cada mulher que foram salvos pela graça e que sentiram o Espírito Santo em seu interior experimentaram o impulso de buscar de imediato a conversão dos pecadores. Eles têm desejado que os transgressores não permaneçam por mais tempo no pecado, que sejam despertos agora, que se apeguem imediatamente à vida eterna e que encontrem uma paz instantânea em Cristo. Que meus irmãos digam se isso não é certo. Vocês não sentiram que “já é hora de nos levantarmos do sono”? Não sentiram a força da advertência: “Tudo o que vier a sua mão para fazer, faça-o segundo suas forças”? Em outros tempos nos contentamos sentindo que uma boa obra estava sendo feita secretamente, que o terreno estava sendo preparado para futuras colheitas, que de uma maneira ou outra a palavra de Deus não voltaria para vazia; mas agora não nos contentamos tão facilmente. Sentimos como se tivéssemos que ver que o Senhor está trabalhando em cada um dos serviços, e advogamos por imediatas conversões. Estamos tão ávidos de entesourar almas como os avarentos estão ávidos de juntar dinheiro. Não digo que todos vocês sintam isso, mas digo que todos aqueles que experimentaram de fato a influência do Espírito Santo durante esse período de agraciada visitação, se encheram de agonia por ver a imediata salvação das almas. Tal como uma mulher que está de parto, vocês desejaram com avidez ouvir o choro das almas recém-nascidas. Sua oração foi: “Bom Senhor, responde hoje as nossas súplicas e conduz hoje nossos semelhantes a ouvirem Tua voz para que sejam salvos”. Peço ao povo de Deus que diga se isso não é certo, que quando o Espírito Santo os induz a ganhar almas, Ele lhes diz: “Hoje, hoje busquem a salvação dos homens”.
O mesmo sucede quando o Espírito Santo fala aos que foram despertos. Ainda que eles ainda não são contados entre o povo de Deus, eles já possuem preocupações por suas almas, e irei cobrar vocês também nesse momento. Vocês já estão conscientes de que ofenderam seu Deus; se alarmaram ao se perceberem em uma condição de afastamento Dele; necessitam ser reconciliados e desejam ardentemente ter a certeza de ter sido realmente perdoados. Vocês desejam esperar que passe seis ou sete anos para ter essa segurança? Consideram nessa manhã que poderiam se sentir perfeitamente satisfeitos se saíssem dessa Casa de oração no mesmo estado em que se acham agora? Vocês gostariam de permanecer nesse estado mês após mês? Se tal demora o deixasse satisfeito, gostaria de dizer que o Espírito de Deus não falou eficazmente contigo. Você só foi influenciado parcialmente – tal como o infeliz Félix – e tendo dito: “Quando tenha oportunidade o chamarei”, não saberemos nada mais de ti. Se o Espírito de Deus estivesse sobre você, você estaria clamando: “Ajuda-me Senhor, ajuda-me agora, salva-me agora ou perecerei. Apresse-se em socorrer-me, deus meu, não se tardes. Apressa-se, nas asas do amor, a resgatar-me do poço da destruição que abre suas bocas debaixo de meus pés”. –
“Vem, Senhor, anima seu servo desfalecente,
Que não se demorem as rodas de Teu carro;
Mostra-me, em meu pobre coração mostra-me,
Meu Deus, meu Salvador, vem imediatamente!”
Um pecador verdadeiramente desperto roga em todo momento no tempo presente, e clama poderosamente pedindo uma salvação imediata, e é um fato que sempre que o Espírito Santo luta com os homens, clama urgentemente com eles: “Hoje, hoje!”.
Ademais, o Espírito Santo fala assim tanto por Seus atos como por Suas palavras. Temos um provérbio muito conhecido que reza: ‘feitos são amores e não boas razões’. Agora, os atos do Espírito Santo para conduzir muitas pessoas ao Salvador nesse lugar são as muitas chamadas práticas, estímulos e mandamentos para outros. A Porta da Misericórdia permanece aberta cada dia do ano, e o simples fato de que está aberta é um convite e um mandamento para se entrar por ela; porem, quando vejo meus semelhantes fluírem a ela, quando vejo, tal como temos visto, que centenas de indivíduos encontram a Cristo ao passarem pelo portal da graça, por acaso vocês não covidam outros para que venham também? Por acaso não dizem para elas: “Essa via pode ser transitada por pessoas como vocês, pois nós estamos andando nela; esse caminho conduz com certeza à paz, pois nós temos achado repouso ali”? Certamente que é assim; essa forma de falar do Espírito Santo chegou muito perto de casa para alguns de vocês, pois vocês viram que seus filhos entram no reino, e, contudo, vocês mesmos não são salvos. Alguns de vocês viram que suas irmãs são salvas, mas vocês mesmo seguem sendo ainda inconversos. Ali está um esposo cuja esposa lhe contou com olhos radiantes sobre o repouso que achou no Salvador, mas ele mesmo recusa buscar o Senhor. Existem pais aqui nesse lugar que encontraram a Jesus, mas seus filhos são uma pesada carga para eles, pois seus corações não foram renovados. Eu vi que meu irmão passou pela porta da salvação? Não devo de tomar isso como uma indicação do Espírito Santo de que Ele está no aguardo de ser clemente para comigo também? Posto que eu percebo que existe graça em Cristo para perdoar os pecados de outros que são exatamente como eu, não poderia esperar que haja misericórdia para mim também? Aventuro-me a esperar e me atreverei a crer. Não deveria ser essa a resolução de cada um, e não é esse o ponto para o quão o Espírito Santo gostaria de conduzi-los? Quando o Espírito leva um pecador a Cristo, Ele também não tem o propósito de atrair a outros?
“O Espírito Santo diz: hoje”. Porem, por que tanta urgência, bendito Espírito, por que tanta urgência? É porque o Espírito Santo está em sintonia com Deus; está em sintonia com o Pai que deseja abraçar o filho pródigo em Seu peito; está em sintonia com o Filho que está pendente de ver o fruto da aflição de Sua alma. O Espírito Santo tem urgência porque está contristado pelo pecado e não gostaria que você continuasse nem sequer por uma hora nele, e cada instante que o pecador recusa vir a Cristo é um instante gasto no pecado; sim, essa resistência a vir é em si mesma a ofensa mais cruel e desavergonhada. A dureza do coração do homem ao Evangelho é a mais deplorável de todas as provocações; por isso o Espírito Santo deseja ver que o homem se desprenda dela, para que se submeta ao poder onipotente do amor. O Espírito Santo deseja ver que os homens estejam atentos à voz de Deus porque Ele se deleita no que é reto e bom. Para Ele é um prazer pessoal. Ele se alegra em contemplar que Sua própria obra no pecador continua até que a salvação é assegurada. Ademais, Ele espera para exercer Seu oficio favorito de Consolador, e Ele não pode consolar uma alma ímpia e nem pode confortar àqueles que endurecem seus corações. O consolo para os incrédulos seria sua destruição. Como deleita ao Espírito ser o Consolador, e como foi enviado pelo Pai para atuar especialmente nessa capacidade – a de consolar ao povo de Deus – Ele vigia com olhos desejosos os corações quebrantados e os espíritos contritos, para aplicar-lhes o bálsamo de Gileade e sarar suas feridas. Portanto, “diz o Espírito Santo: hoje”; Deixo-lhes esse fato. A voz especial do texto não é a de um homem, mas sim a do próprio Espírito Santo. Aquele que tenha ouvidos para ouvir, ouça:
“Então, enquanto se diga hoje
Ó, ouçam a mensagem do Evangelho;
Vem, pecador, apressa-se, ó, vá logo,
Enquanto esteja disponível o perdão”.
II. O texto inculca UM DEVER ESPECIAL. O dever que temos de ouvir a voz de Deus. Se assim o leram, o texto nos ordena a ouvir a voz do Pai que diz: “Convertei-vos, filhos rebeldes. Vinde logo, diz o SENHOR, e tenhamos contas … se vossos pecados forem vermelhos como o carmesim, virão a ser como branca lã”. Ou poderia ser a voz de Jesus Cristo, pois o apóstolo está falando Dele aqui. É Jesus quem chama: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e atribulados, e eu os farei descansar”. De fato, a voz que deve ser ouvida é a da Sagrada Trindade, pois junto com o Pai e o Filho, o Espírito também diz: “Vem”. É-nos ordenado que ouçamos, e esse, certamente, não é um dever difícil. O grande preceito evangélico é: “Inclinai vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e viverá vossas almas”, pois “a fé é pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Deus”. Então, ouçam a voz do Senhor. “Bem”, alguém dirá, “nós a ouvimos, nós lemos a Bíblia, e estamos muito dispostos a ouvir tudo o que é pregado no domingo”. Ah, meus queridos ouvintes, saibam que existem diferentes maneiras de se ouvir. Muitos têm ouvidos para ouvir, mas em realidade não ouvem nada. O que é exigido de nós é ouvir com reverência; essa é a voz de seu Criador, de seu Senhor; é a voz da Verdade infalível, do Amor infinito, da autoridade soberana, e, portanto, não se deve prestar alguma atenção meramente comum. Escutem-na com devoção, e convoquem todos seus poderes para uma atenção adoradora. Os anjos cobrem seus rostos na presença do SENHOR, então o homem atuará com frivolidade em Sua presença? Quando Deus fala, não pensem que se trata simplesmente da voz de um rei a quem cuja mensagem seria uma traição prestar ouvidos surdos; pensem que é a voz de seu Deus, e que é uma blasfêmia não estar atentos para ela. Ouçam-no atentamente, com ansiedade por conhecer o significado do que é dito, regando-se de Sua doutrina, recebendo com mansidão a palavra implantada que pode salvar suas almas, inclinando seu entendimento para ela, anelando compreendê-la, desejando ser influídos por ela. “Ouçam sua voz”, isso é, ouçam-na obedientemente, ávidos de fazer aquilo que ela pede de vocês, conforme Ele os capacite. Não ouçam para logo depois esquecer, como alguém que olha um espelho e vê seu rosto, e logo olvida como era. Retenham a verdade em sua memória, porém, melhor ainda, a pratiquem em suas vidas. Ouvir nesse caso equivale, de fato, a submeter-se a vontade de Deus, a ser como a argila modelável e que Sua palavra seja como a mão que os modela, ou que seu coração seja como o metal derretido, e que a palavra seja como um molde no qual são vertidos.
Ouçam ao Senhor quando os instrui. Estejam dispostos a conhecer a verdade. Com quanta frequência os ouvidos dos homens são tapados com a cera do juízo prévio, de tal forma que com os ouvidos eles ouvem pesadamente. Tomaram uma decisão quanto ao que o Evangelho deve ser, e não querem ouvir o que ele é. Consideram-se os juízes da palavra de Deus, em vez de que a palavra seja seu juiz. Alguns seres não querem saber demais, pois poderiam se sentir incomodados com seus pecados e o fizessem, e, portanto, não estão ansiosos de que os instruam. Quando os homens tem medo da verdade existe uma sólida razão para temer que a verdade está contra ele. Uma das piores evidências de uma condição caída é quando um filho de Adão se esconde da voz de seu Criador. Porém, ó queridos ouvintes, ouçam hoje Sua voz. Aprendam de Jesus, sentem-se tal como alunos aos Seus pés, pois: “Se não vos converteis e os fazeis como crianças, não entrareis no reino dos céus”. Ouçam-no tal como os alunos ouvem seu mestre na escola, pois todos os filhos de Sião são ensinados pelo Senhor. Porém, o Senhor faz algo mais que instruí-los: Ele ordena; porque independentemente do que os homens digam, o Evangelho que deve ser pregado aos ímpios não consiste meramente em advertências e ensinos, já que também contém mandamentos solenes e positivos. Ouçam isso: “Porém Deus, tendo passado por alto os tempos da ignorância, agora manda a todos os homens em todo lugar que se arrependam”. Quanto à fé, a palavra do Senhor não vem como uma mera recomendação de suas virtudes, ou como uma promessa para aqueles que a praticam, mas ela fala nesse sentido: “Crê no Senhor Jesus Cristo e será salvo. O que crer e for batizado será salvo; mas o que não crer, será condenado”. O Senhor coloca a solene sanção de uma ameaça de condenação no mandamento para mostrar que não se pode brincar com isso. “Toda potestade” – Cristo diz – “me é dada no céu e na terra”, e, portanto, revestidos com essa autoridade e com esse poder, Ele envia Seus discípulos dizendo-lhes:“Ide, e fazei discípulos em todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. A palavra sai com autoridade divina, dizendo: “Arrependei-vos e crede no evangelho”. Esse mandamento é tão mandamento de Deus como aquele que diz: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração”, e ele possui um conteúdo maior de solene obrigação, pois enquanto que a lei foi dada por Moisés, o mandamento evangélico foi dado pelo próprio Filho de Deus. “O que viola a lei de Moisés, pelo testemunho de duas ou três testemunhas morre sem remissão. Quanto maior castigo pensais vós que merecerá o que pisotear ao Filho de Deus?”. Escutem, então, os mandamentos de Jesus, pois estejam certos que Seu Evangelho chega para vocês com a autoridade imperial do Senhor de todas as coisas.
Porem, o Senhor faz algo mais que mandar. Ele convida com clemência; com ternura pede aos pecadores que assistam a Seu banquete de misericórdia, pois todas as coisas estão dispostas. Como se suplicasse aos homens e persuadisse de bom grado onde poderia exigir, Ele exclama: “a todos os sedentos: vinde as águas, e aos que não tem dinheiro, vinde, comprai e comei. Vinde, comprai sem dinheiro nem preço, vinho e leite”. Muitas das chamadas do Senhor são notáveis por seu extremo caráter patético, como se Ele mesmo fosse quem sofresse e não o pecador, se ele permanecesse em sua obstinação. Ele clama: “Volvei, volvei de vossos maus caminhos; pó que morrereis, ó casa de Israel?”. Como um pai que suplica a seu amado mas desobediente filho que está arruinando-se a si mesmo, Deus mesmo suplica como se as lágrimas inundassem Seus olhos; sim, o Deus encarnado chorou verdadeiramente pelos pecadores e exclamou: “Jerusalém, Jerusalém…. quantas vez quis juntar seus filhos como a galinha junta seus pintainhos debaixo de suas asas, e não quiseste!”. Não ouvirás, então, quando Deus instrui? Por acaso Ele dará a luz e seus olhos estarão fechados? Você não obedecerá quando Ele manda? Pretende rebelar-se contra Ele? Darão as costas quando Deus os convida? Seu amor deverá ser tratado com irresponsabilidade e Sua abundância com escárnio? Que Deus nos conceda que não seja assim. O bom Espírito não pede mais do que é justo e reto quando clama: “Ouçam a voz do Senhor”.
Mas o Senhor faz algo mais que convidar: acrescenta Suas promessas. Ele disse; “ouvi e viverá vossa alma; e farei convosco pacto eterno, as misericórdias firmes de Davi”. Ele nos disse que: “se confessarmos nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e purificar de toda injustiça”. Existem gloriosas em Sua palavra que são grandes e preciosas. Ó, eu lhes suplico que não se considerem indignos delas, pois se o fizerem, “vosso sangue seja sobre vossa própria cabeça”.
Assim como roga, o Senhor também ameaça. Ele adverte. “Se não se arrepende, ele afiará sua espada; já tem armado seu arco, e o tem preparado”. Ele declara que os menos prezadores se assombrarão e desparecerão. Ele faz com que nos perguntemos: “Como nós escaparemos, se descuidarmos de tão grande salvação?”. Ele diz: “os maus serão trasladados ao Seol, todos os povos que se esquecem de Deus”. Ainda que Ele não quer a morte do que morre, antes quer que se converta e viva, contudo, de nenhum modo terá por inocente o culpado, mas sim que toda transgressão e iniquidade terão sua justa recompensa como pagamento. Se Cristo é rejeitado, a eterna irá é certa. Por essa porta vocês entrarão no céu, mas se passarem longe dela, até mesmo Aquele que agora nesse momento está disposto a cortejá-los com Suas mãos perfuradas, no último grande dia virá com vara de ferro para quebrá-los. “Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações”. Deixo-lhes esses pensamentos. Que Deus nos conceda que deixem pisadas onde Suas vontade decida que façam.
III. Nosso texto ENFATIZA UM TEMPO ESPECIAL. “O Espírito Santo diz: Hoje”. Hoje é o tempo estabelecido para ouvir a voz de Deus. Hoje, isso é, enquanto Deus fala. Ó, se fossemos como deveríamos ser, no instante que Deus dissesse: “Buscai meu rosto”, nós responderíamos “teu rosto buscarei, ó Senhor”. Tão logo como se ouvissem as chamadas da misericórdia, haveria um eco em nossas almas em resposta a elas, e diríamos: “Eis aqui nós viemos a ti para ser salvos”. Observem como a voz de Deus foi ouvida no ato na criação. O Senhor disse: “Haja luz; e foi a luz”. Ele disse: “Produzam as águas seres viventes”, e de imediato isso aconteceu. Não houve nenhuma demora. O “faça” de Deus foi executado instantaneamente. Ó vocês aos quais Deus fez homens e os dotou de razão, por acaso a insensível terra será mais obediente que vocês? Tão logo o Senhor fala as ondas do mar abundarão de peixes e a terra se cobrirá de erva, e por acaso vocês continuarão dormindo quando a voz celestial clama: “Desperte tu que dormes, levanta-te dos mortos, e Cristo te iluminará”? Ouça a Deus hoje, pois Ele fala hoje.
Sermão de Jonh Wesley - O homem rico e Lazáro
"Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos". (Lucas 16:31)
O Homem Rico e Lázaro
"Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos". (Lucas 16:31)
1. Quão estranho paradoxo é este! Quão contrário à compreensão comum dos homens! Que está assim confirmado na descrença, de maneira a não pensar: "Se alguém vier até mim, dos mortos, eu efetivamente estarei persuadido a me arrepender?". Mas esta passagem nos permite uma declaração mais estranha: (Lucas 16:13) "Nós não podemos servir a Deus e a mammon [riquezas]". Um servo verdadeiro de mammon não dirá: "Não! Por que não? Por que não podemos servir a ambos?". Assim sendo, os fariseus, que supunham servirem a Deus, e cordialmente serviam a mammon, zombavam dele: exemyktErizon. Uma palavra expressiva do mais profundo desprezo. Mas ele diz: (Lucas 16:15) "Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação". Uma prova terrível de que nosso Senhor acrescentou na parte restante deste capítulo.
2. Mas o relato subseqüente é meramente uma parábola, ou uma história real? Acreditou-se, por muitos, e foi completamente defendido, tratar-se de uma mera parábola, por uma ou duas circunstâncias nela, que não são fáceis de serem consideradas. Em especial, é difícil conceber, como uma pessoa no inferno dialogaria com alguém no paraíso. Mas, admitindo que não possamos levar isto em consideração, trata-se de uma afirmação preponderante de nosso Senhor: "Havia", diz nosso Senhor, "um certo homem rico". Não havia? Tal homem nunca existiu? "E havia um certo mendigo, chamado Lázaro". — Havia ou não havia? Não é suficientemente audacioso, negar positivamente, o que nosso abençoado Senhor positivamente afirma? Portanto, nós não podemos razoavelmente duvidar, mas toda a narração, com todas as suas circunstâncias, são exatamente verdadeiras. E Theophylact (um dos comentadores antigos das Escrituras) observa do texto, que, "de acordo com a tradição dos judeus, Lázaro viveu em Jerusalém".
Assim, eu proponho, com a ajuda de Deus:
I. Explicar esta história;
II. Aplicá-la;
III. Provar a verdade daquela importante sentença, com o que está concluído, ou seja: "Se eles não ouviram Moisés e os Profetas, nem serão persuadidos, embora alguém ressuscite de entre os mortos".
I
1. Primeiro, eu me esforçarei, com a assistência de Deus, para explicar esta história: "Havia um certo homem rico"; e, sem dúvida, conforme este mesmo relato, altamente estimado entre os homens, -- "que estava vestido em púrpura, e fino linho"; e, conseqüentemente, estimado mais altamente, ambos por parecer ajustado à sua fortuna, e como um estimulador do comércio; -- "e que passava bem suntuosamente todos os dias". Aqui estava uma outra razão para que fosse altamente estimado, -- por sua hospitalidade, e generosidade, -- tanto através daqueles que freqüentemente se sentavam à sua mesa, quanto pelos comerciantes que a abasteciam.
2. "E houve um certo mendigo"; alguém na linha mais inferior da infâmia humana; "chamado Lázaro", de acordo com a denominação Grega; em Hebreu, Eleazer. Do seu nome, nós podemos concluir, que este, de maneira alguma, era de família; embora este ramo dela estivesse, no momento, tão reduzido. É provável que ele fosse bem conhecido na cidade; e não foi escândalo para ele ter um nome. – "Que estava deitado em seu portão"; embora nenhum espetáculo agradável; de maneira que alguém se surpreendesse que lhe permitissem deitar lá; -- "cheio de feridas"; de úlceras corrosivas; -- "e desejando ser alimentado com as migalhas que caiam da mesa dos ricos". Assim, a complicada aflição da pobreza, dor, e necessidade de pão, caíram sobre ele imediatamente! Mas não parece que alguma criatura prestou a menor atenção ao desprezível miserável! Apenas "os cães vieram e lamberam suas feridas". Todo o conforto que este mundo lhe fornecia!
3. Mas veja a mudança! "O mendigo morreu": Aqui terminou a pobreza e a dor: -- "E ele foi levado pelos anjos"; os mais nobres servos do que qualquer um que atendeu ao homem rico: -- "ao seio de Abraão": -- Assim, os judeus comumente denominaram o que nosso abençoado Senhor chama de paraíso; o lugar "onde o mal cessa de causar perturbação, e onde o fraco encontra descanso"; o receptáculo das almas santas, da morte para a ressurreição. Geralmente se supõe, na verdade, que as almas dos homens bons, tão logo deixam o corpo, vão diretamente para o céu; mas esta opinião não tem o menor fundamento nos oráculos de Deus: Ao contrário, nosso Senhor diz a Maria, depois da ressurreição: "Não me toque; porque eu não ascendi ainda ao meu Pai", no céu. Mas ele esteve no paraíso, de acordo com sua promessa ao ladrão penitente: "Este dia, tu estarás comigo no paraíso", Conseqüentemente, fica claro, que o paraíso não é o céu. Trata-se, na verdade (se nós podemos admitir a expressão), da antecâmara do céu, onde as almas dos justos permanecem, até que, depois do julgamento geral, eles sejam recebidos na glória.
4. Mas veja que a cena muda novamente! "O rico também morreu". O que? O rico também deve morrer? Deve cair, "como qualquer outro do povo?". Não existe ajuda? Um rico, em Londres, alguns anos trás, quando o médico lhe disse que ele deveria morrer, rangeu os dentes, cerrou o punho, e clamou veementemente: "Deus, Deus, eu não quero morrer!" Mas ele morreu, com as mesmas palavras em sua boca. – "E foi enterrado"; sem dúvida, com pompa suficiente, adequada à sua condição social; embora acreditemos que não houve, em todo o mundo, tal exemplo extraordinário de tolice humana, do que a insensível, e cruel zombaria de uma pobre carcaça pútrida, o que nós denominamos jaz em câmara ardente!
5. "E no inferno, ele levantou seus olhos" -- Ó, que mudança! Como o poderoso caiu! Mas a palavra que está aqui atribuída a inferno, nem sempre significa o lugar do condenado. Ela é literalmente, o mundo invisível; e da mesma extensão considerável, incluindo o receptáculo dos espíritos separados, se bons ou maus. Mas aqui evidentemente significa aquela região dos hades, onde as almas dos maus residem, como aparece das palavras seguintes: "Estando em tormento", -- "com o objetivo", dizem alguns, "de expiar pelos pecados cometidos, enquanto no corpo, assim como purificar a alma de todos os seus pecados inerentes". Exatamente como o eminente poeta ateu, perto de dois mil anos atrás:
Necesse est
Multa diu concreta modis inolescere miris,
Ergo exercentur poenis --
-- Aliae panduntur inanes
Suspensae ad ventos: Aliis sub gurgite vasto
Infectum eluitur scelus, aut exuritur igni.
[Esta citação de Virgílio (Aeneid vi.737-742) é assim traduzida por Pitt]:
Mesmo quando aqueles corpos estão resignados à morte;
Algumas antigas máculas inerentes são deixadas para trás;
Uma tintura suja das máculas corporais;
Profunda, na essência da alma, permanece.
Assim, seu esplendor é diminuído, e incrustado,
Com aquelas imperfeições obscuras que ela conheceu antes.
Por causa disto, as almas pagam várias penitências,
Para purgarem a corrupção dos crimes anteriores.
Algumas, nas brisas impetuosas são refinadas,
E pairam no alto para alvejarem ao vento:
Algumas limpam suas manchas abaixo das correntezas efusivas,
E algumas se erguem gloriosas das chamas penetrantes.
Veja a semelhança próxima, entre o purgatório antigo e moderno! Apenas no antigo, o purgatório ateu, ambos fogo, água, e ar, foram empregados nos pecados expiatórios, e em purificar a alma; enquanto que no purgatório místico, o fogo apenas se supôs suficiente quer para purgar, quanto para expiar. Vã esperança! Nenhum sofrimento, mas aquele de Cristo, tem algum poder para expiar pecado; e nenhum fogo, mas aquele do amor, pode purificar a alma, quer no tempo, ou na eternidade.
6. "Ele viu Abrão à distância" – Distante, de fato! Tão distante quanto do inferno ao paraíso! Talvez, "dez vezes o comprimento deste terreno". Mas como seria? Eu não posso dizer: Mas é, de qualquer forma, incrível. Porque, quem sabe "quão distante é o alcance visual de um anjo", ou um espírito destituído da carne e sangue? – "E Lázaro em seu seio". Sabe-se bem que nas festas antigas, em meio aos judeus, assim como romanos, os convidados não se sentavam à mesa, como é agora costuma fazer; mas deitava-se em poltronas, cada uma tendo um travesseiro do seu lado direito, no qual ele apoiava seu cotovelo; e aquele que se sentava próximo a ele, do lado direito, dizia-se que deitava em seu peito. Foi neste sentido que o Apóstolo João deitou no peito de seu Mestre. Assim sendo, esta expressão de Lázaro, deitando no peito de Abrão, implica que ele estava nos lugares mais altos de honra e felicidade.
7. "E ele clamou e disse: Pai Abraão, tenha misericórdia de mim". –Tu, tolo! O que pode Abraão fazer? O que pode alguma criatura, sim, toda a criação fazer, para quebrar as barras do abismo sem fim? Quem quer que queira escapar do lugar de tormenta, que ele clame a Deus, o Pai da misericórdia! Não, o tempo é passado! Justiça agora toma lugar, e regozija-se sobre a misericórdia! – "E envia Lázaro, para que ele possa molhar a ponta de seus dedos na água, e refrescar minha língua, porque eu estou atormentado nesta chama!". Que pedido excessivamente modesto é este! Ele não diz: "Para que ele possa me tirar desta chama". Ele não pediu: "Que ele possa trazer-me um copo de água, ou tanto quanto coubesse na palma de sua mão"; mas meramente, "que ele pudesse molhar", fosse isto apenas, "a ponta dos dedos na água, e refrescar minha língua". Não! Não pode ser! Nenhuma misericórdia pode entrar dentro das sombras do inferno! Ausência total de paz!
8. "Mas Abraão disse: Filho, lembra-te que tu, durante tua vida, recebeste tuas boas coisas, e igualmente Lázaro as coisas más; mas agora ele está confortado, e tu estás atormentado". Talvez, essas palavras possam nos suprir com uma resposta para uma importante questão: Como aconteceu deste homem rico estar no inferno? Não parece que ele fosse um homem mau, no sentido comum da palavra; que ele fosse um bêbado, um blasfemador, alguém que não respeita o Sabbath, ou que viveu em pecado conhecido. É provável que ele fosse um fariseu; e como tal, fosse, em todas as partes exteriores da religião, irrepreensível. Como, então, ele veio para "o lugar de tormento?". Se existiu nenhuma outra razão para ser atribuída, existe uma suficiente, implícita nestas palavras ("aquele que tem ouvidos, para ouvir, que ouça!"). "Tu, durante tua vida, recebestes as tuas boas coisas"; -- as coisas que tu escolheste para tua felicidade. Tu fixaste tua afeição nas coisas abaixo: E tu tiveste tua recompensa: Tu recebeste a porção que tu escolheste, e tu jogaste fora a porção acima. "E igualmente Lázaro, as coisas ruins". Não suas coisas más; porque ele não as escolheu. Mas elas foram escolhidas para ele, pela sábia providência de Deus. E "agora ele está confortado, enquanto tu estás atormentado".
9. "Mas, além de tudo isto, existe um grande abismo fixado": -- Um grande precipício, uma vasta lacuna. Alguém pode nos dizer o que é isto? Qual é a natureza, quais são os limites dele? Não, nenhum dos filhos dos homens, ninguém, a não ser os habitantes do mundo invisível. – "Assim, aqueles que quisessem passar daqui para vocês não poderiam; nem poderiam passar para nós, aqueles que viriam daí". Sem dúvida, um espírito desencarnado poderia passar através de qualquer espaço que fosse. Mas a vontade de Deus, determinando que ninguém possa seguir através daquele abismo, é um limite que nenhuma criatura pode transpor. Vontade Absoluta de Deus, e ( Vontade Permissiva)
10. Então, ele disse: "Eu oro a ti, portanto, pai, para que tu possas enviá-lo à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos, para que ele possa testemunhar junto a eles, a fim de que eles também não venham para este lugar de tormenta". (Lucas 16:27-28). Dois motivos inteiramente diferentes têm sido afirmados para este extraordinário pedido. Alguns o atribuem totalmente ao amor-próprio, a um temor das reprovações amargas que ele poderia facilmente supor, seus irmãos derramariam sobre ele, se, em conseqüência do seu exemplo, e, talvez, conselho, eles viessem para o mesmo local de tormenta. Outros têm imputado isto a um motivo mais nobre. Eles supõem, como a miséria do mau não será completa até o dia do julgamento, então, nem sua maldade. Conseqüentemente, eles acreditam que, até aquele tempo, eles podem reter algumas centelhas da afeição natural, e não é improvável imaginar que isto possa ter ocasionado seu desejo de prevenir que eles compartilhem de seu próprio tormento.
11. "Abraão disse a ele: Eles têm Moisés e os Profetas, que ouçam a eles".(Lucas 16:29). "E ele respondeu: Mais do que isto, pai Abraão; se alguém for até eles dos mortos, eles se arrependerão". Quem seria da mesma opinião? Alguém não poderia razoavelmente supor que uma mensagem solenemente entregue por alguém que veio dos mortos deve ter uma força irresistível? Quem não pensaria: "Eu mesmo não poderia possivelmente resistir a tal pregador do arrependimento?".
II
Este, eu compreendo, é o significado das palavras. Eu me esforçarei agora, com a ajuda de Deus, para aplicá-las. E eu imploro a vocês, irmãos, enquanto eu estiver fazendo isto, "para permitirem a palavra de exortação". Quanto mais intimamente essas coisas são aplicadas à suas almas, mais vocês podem tirar proveito disto.
1. "Havia um certo homem rico". – E não é mais pecaminoso ser rico do que ser pobre. Mas é perigoso além de expressão. Portanto, eu lembro a todos vocês que são deste número, que têm as conveniências, e alguma coisa mais, que vocês caminham em solo escorregadio. Vocês continuamente andam sobre armadilhas e mortes. Vocês estão, a todo o momento, à beira do inferno! "É mais fácil para um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que você entrar no reino dos céus". – "Quem estiver vestido em púrpura, e fino linho". E alguns podem ter um pretexto para isto. Nosso Senhor menciona aqueles que "habitam nas casas reais", como usando vestimenta suntuosa, ou seja, esplêndida, e não tem vergonha disto. Mas certamente esta não é uma justificativa para alguém que não habita nos palácios. Que eles todos, portanto, cuidem de como eles seguem o exemplo daquele que está "ergue seus olhos no inferno!". Vamos seguir o conselho do Apóstolo, sendo "adornado com as boas obras, e com o ornamento de um espírito humilde e tranqüilo".
2. "Ele temeu suntuosamente todos os dias". – Reconcilie isto com a religião quem puder. Eu não sei como plausivelmente os profetas das coisas fáceis podem falar em favor da hospitalidade; de tornar nossos amigos bem-vindos: de manter uma mesa vistosa, fazer as honras da religião, promover comércio e coisas semelhantes. Mas Deus não é simulado: Ele não será dissuadido com tais pretensões como estas. Quem quer que tu sejas que compartilhas do pecado deste rico homem, fosse ele não outro do que "alimentar-se suntuosamente todos os dias", tu certamente serás um participante na punição dele, exceto se tu te arrependeres, como se tu já estivesses clamando por uma gota de água para refrescar tua língua!
3. "E existiu um certo mendigo chamado Lázaro, que estava deitado em seu portão, cheio de feridas, e desejando ser alimentado com as migalhas de pão que caia ao chão da mesa dos homens ricos". (Lucas 16:20-21). Mas parece que ambos os ricos e seus convidados eram muito religiosos para socorrerem mendigos comuns! – um pecado do qual o piedoso sr. H. tão sinceramente adverte seus leitores, e uma admoestação do mesmo tipo que eu li no portão da boa cidade de Winchester! Eu desejo que os cavalheiros que o colocaram lá vissem as pequenas circunstâncias que ocorreram alguns anos, desde então. Em Epworth, em Lincolnshire, a cidade onde eu nasci, uma pedinte veio para uma casa, na praça do mercado, e pediu um pedaço de pão, dizendo que ela estava muito faminta. O mestre convidou-a a ir embora, como uma desocupada. Ela chamou um segundo, e implorou por um pouco de cerveja, dizendo que estava muito sedenta. Teve a mesma resposta. Na terceira porta, ele pediu um pouco de água; dizendo que ela estava muito fraca. Mas este homem também era muito escrupuloso para encorajar pedintes comuns. Os meninos vendo a criatura esfarrapada, de porta a porta, começaram a apedrejá-la com bolas de neve. Ela olhou para o alto, caiu ao chão, e morreu! Você desejaria ser o homem que recusaria um pedaço de pão, ou um copo de água, àquela pobre miserável? – "Além disso, os cães vieram e lamberam suas feridas". Sendo mais compassivos que o mestre deles. – "E aconteceu que o pedinte morreu, e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão". Ouçam isto, todos vocês que são pobres neste mundo. Vocês que, muitas vezes, não têm alimento, ou vestimenta; vocês que não têm um lugar onde deitarem sua cabeça, exceto um frio sótão, ou um sujo e úmido celeiro! Vocês estão agora reduzidos a "solicitar a mão fria da caridade". Ainda assim, ergam seus fardos; eles não serão sempre assim. Eu amo vocês; eu tenho misericórdia de vocês; eu admiro vocês, quando "na paciência, você possuem suas almas". Ainda assim, eu não posso ajudar você. Mas existe Alguém que pode, -- o Pai do órfão, e o Marido da viúva. "O pobre clamou junto ao Senhor, e ele o ouviu, e o livrou de todas as suas preocupações". Ainda assim, pouco depois, se você verdadeiramente voltar para ele, seus anjos poderão levá-lo ao seio de Abraão. Lá "não haverá mais fome e sede", você não mais sentirá tristeza ou dor; mas "o Cordeiro enxugará todas as suas lágrimas, e o conduzirá para além das fontes de águas vivas".
4. Mas veja, a cena está mudada! "O rico também morreu". O que? A despeito de sua riqueza? Provavelmente mais cedo do que ele desejava. Porque, quão justa é esta palavra: "Ó, morte, quão amarga és tu para um homem que descansa em meio às suas posses". De qualquer modo, se este pudesse ser um conforto, "ele foi enterrado". Mas quão pouco significaria, se ele estava, sob um monumento soberbo ou em meio ...
Às sepulturas, limitadas com dobras de vimeiro.
Aquele inominável erguimento, do solo reduzido a pó!
E o que se seguiu? "No inferno, ele ergueu seus olhos". É certo que isto, você não precisa fazer. Deus não requer isto de você: "Ele não deseja que alguém possa perecer". Você não pode, exceto por suas própria escolha obstinada, -- penetrar naquelas regiões de aflição, que Deus não preparou para você, mas para "o demônio e seus anjos".
5. Veja a mudança de cena novamente! "Ele vê Abraão ao longe, e Lázaro em seu seio". E ele o conheceu, embora, talvez, ele tenha apenas olhado de relance para ele, enquanto ele "estava nos portões". Algum de vocês está em dúvida, se nós poderemos reconhecer uns aos outros, no outro mundo? Aqui, suas dúvidas podem receber uma solução completa. Se uma alma no inferno reconheceu Lázaro no paraíso, por mais distante que ele estivesse, certamente aqueles que estão juntos no paraíso reconhecerão perfeitamente uns aos outros.
6. "E ele clamou e disse: Pai Abrão, tenha misericórdia de mim!" — Eu não me lembro, em toda a Bíblia, de alguma oração feita a um santo, a não ser esta. E, se observarmos quem a fez, -- um homem no inferno, -- e com que sucesso, nós dificilmente desejaríamos seguir o precedente. Ó, que clamemos pela misericórdia de Deus, e não do homem! E é nossa sabedoria clamar agora, enquanto estamos na terra da misericórdia; do contrário será muito tarde! – "Eu estou atormentado nesta chama!". Atormentado, observe, mas não purificado. Esperança vã, que a chama possa purificar o espírito! Assim como você esperaria que a água limpasse a alma, como o fogo. Deus proíbe que você ou eu façamos a tentativa!
7. E "Abrão disse: Filho, lembra-te": -- Assinale, como Abrão aborda um espírito condenado: E será que nós devemos proceder com menos ternura para com algum dos filhos de Deus, "porque eles não têm a mesma opinião que nós?" -- "Tu, em tua vida recebestes tuas boas coisas". Ó, toma cuidado, para que este não seja teu caso! As coisas do mundo são "tuas boas coisas:" – os principais objetos de teu desejo e busca? Elas não são tua principal alegria? Se for assim, tu estás no mesmo estado perigoso; na mesma condição que Dives [palavra em Latim para o homem rico] estava sobre a terra! Então, não sonhes que tudo está bem, porque tu és "altamente estimado dentre os homens"; porque tu não causas dano, ou fazes o bem, ou atendes todas as ordenanças de Deus. O que é tudo isto, se tua alma está presa ao pó; se teu coração está no mundo; se tu amas a criatura mais do que o Criador?
8. Quão impressionantes, são as próximas palavras! "Além de tudo isto, entre vocês e nós, existe um grande abismo; de maneira que aqueles que quisessem passar daqui para vocês não poderiam; nem poderiam passar para nós, aqueles que viriam daí". Este é o texto que ocasionou o epitáfio de um honorável infiel e jogador: --
Aqui jaz um jogador de dado; há muito em dúvida,
Se a morte mataria sua alma, ou não:
Aqui termina sua dúvida, por fim,
Convencido; -- mas, ah! O dado está lançado!
Mas, abençoado seja Deus, que seu dado não esteja lançado ainda. Você não passou pelo grande abismo, mas tem ainda em seu poder, escolher se você será atendido pelos anjos ou amigos, quando sua alma deixar esta mansão terrena. Agora estique sua mão para a vida eterna ou a morte eterna! E Deus diz: "Seja junto a ti, até mesmo como tu desejas!". 9. Sendo recusado neste, ele faz um outro pedido: "Eu suplico a ti que o envie à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos; para que ele possa testemunhar para eles". Não é impossível, que outros espíritos infelizes possam desejar bem às relações que eles têm atrás de si. Mas este é o tempo aceitável para eles, assim como por nós. Que nós, então, recorramos a nós mesmos, e peçamos aos nossos amigos vivos que nos dêem toda a ajuda que eles puderem, sem esperarmos pela assistência dos habitantes de outro mundo. Que nós sinceramente os exortemos a usar as ajudas que eles têm; para "ouvirem Moisés e os Profetas". Nós, de fato, estamos aptos a pensar, como aquele espírito infeliz: "Se alguém, de entre os mortos, foi até eles, eles irão se arrepender". "Mas Abraão disse: Se eles não ouvirem Moisés e os Profetas, nem mesmos serão persuadidos, se alguém ressuscitar dos mortos".
III
1. Em Terceiro Lugar, eu vou provar a verdade desta sentença importante; o que eu farei, Primeiro, brevemente, e, então, mais amplamente.
Primeiro, para expressar o assunto brevemente: É certo que nenhum espírito humano, enquanto está no corpo, pode persuadir outro a se arrepender; pode operar nele uma mudança completa, tanto do coração quanto de vida; uma mudança da maldade universal, para a santidade universal. E suponha que este espírito, separado do corpo, não mais seja capaz de fazer isto do que era antes: Nenhum poder menor do que aquele que o criou, no princípio, pode criar alguma alma nova. Nenhum anjo, muito menos, algum espírito humano, se no corpo ou fora dele, pode trazer uma alma "da escuridão para a luz, e do poder de satanás para Deus". Isto muito possivelmente o levaria a morte, ou à crença de alguma verdade especulativa; mas não poderia intimidá-lo para uma vida espiritual. Deus apenas pode ressuscitar aqueles que estão "mortos nas transgressões e pecados".
2. Com o objetivo de provar mais amplamente que, se os homens "não ouvem Moisés e os Profetas, nem eles serão" efetivamente "persuadidos" a arrependerem-se, "mesmo que alguém ressuscite dos mortos". Eu proporei um caso deste tipo, com todas as vantagens que podem ser concebidas. Suponha, então, alguém que não "ouve Moisés e os Profetas"; que não crê que as Escrituras sejam de Deus, dormindo profundamente em sua cama, e subitamente acordado, enquanto o relógio estava exatamente marcando uma hora. Ele ficou surpreso de observar o quarto tão iluminado, como se fosse meio-dia. Ele olhou e viu alguém a quem ele conhecia perfeitamente, ao lado de sua cama. Embora um pouco surpreso, a princípio, ele rapidamente recompôs-se, e teve coragem para perguntar: "Você não é meu amigo que morreu tal tempo?". Ele responde: "Eu sou. Eu venho de Deus, com uma mensagem para você. Você freqüentemente desejou ver alguém ressuscitar dos mortos; e disse, então, que você se arrependeria. Você tem seu desejo; e eu sou ordenado a informar-lhe que você está buscando morte no erro de sua vida. Se você morrer, no estado em que se encontra agora, você morrerá eternamente. Eu advirto você, em nome Dele, que as Escrituras são a palavra verdadeira de Deus; que do momento em que você morre, você será notavelmente feliz, ou inexplicavelmente miserável; que você não pode ser feliz daqui por diante, a menos que você seja santo aqui; o que não pode ser, exceto se você nascer novamente. Receba este chamado de Deus. A eternidade está à mão. Arrependa-se e creia no Evangelho!". Tendo falado estas palavras, ele desapareceu; e a sala estava escura como antes.
3. Alguém pode facilmente acreditar que seria impossível para ele não ser convencido pelo presente. Ele não dormiria mais aquela noite; e tão logo quanto possível, diria à sua família o que ele tinha visto e ouvido. Não contente com isto, ele ficaria impaciente de dizer isto aos seus primeiros companheiros. E, provavelmente, observando a sinceridade com que ele falou, eles, então, não o contestariam. Eles diriam uns aos outros: "Dê a ele tempo para acalmar-se; então, ele será um homem racional novamente".
4. Agora, constantemente se observa que as impressões feitas sobre a memória, gradualmente, diminuem; que elas vão ficando mais e mais fracas no decorrer do tempo, e os traços dela mais e mais indistintos. Assim, deve ser neste caso; o que suas companhias observando, não falhariam em aproveitar a oportunidade. Eles falariam para este efeito: "Foi um estranho relato que você nos deu, algum tempo, desde então; além do mais, porque nós sabemos que você é um homem sensato, não inclinado ao fanatismo. Mas, talvez, você não tenha considerado completamente, quão difícil é, em alguns casos, distinguir nossos sonhos de nossos pensamentos, quando acordados. Alguém já é capaz de se certificar do critério infalível entre eles? Então, não será possível que você estivesse acordado, quando esta impressão viva foi criada em sua mente?". Quando ele foi levado a refletir, possivelmente seria um sonho; eles logo o induziriam, provavelmente, que foi assim; e não muito tempo depois, a acreditar que isto certamente fora um sonho. Então, pouco ajudaria que alguém viesse dos mortos!
5. Poder-se-ia esperar o contrário. Porque, qual foi o efeito forjado sobre ele? (1) Ele estava excessivamente apavorado: (2) Este medo abriu caminho para uma convicção mais profunda da verdade, então, declarada: Mas (3) seu coração não estava mudado. Ninguém, a não ser o Altíssimo poderia realizar isto. Portanto, (4) a inclinação de sua alma foi ainda seguir o caminho errado; ele ainda amava o mundo, e, conseqüentemente, desejava que as Escrituras não estivessem certas. Quão facilmente, então, já que o medo diminuiu, ele acreditaria no que ele desejasse! A conclusão, então, é clara e inegável. Se os homens "não ouvem Moisés e os Profetas, eles não serão persuadidos" a arrependerem-se e crerem no Evangelho, "embora alguém ressuscite dos mortos".
6. Nós podemos acrescentar uma consideração mais, que traga o assunto para uma conclusão completa. Antes, ou por volta do mesmo tempo que Lázaro foi levado ao seio de Abraão, um outro Lázaro, irmão de Marta e Maria, verdadeiramente ressuscitou de entre os mortos. Mas mesmo aqueles que creram estavam de fato persuadidos a arrependerem-se? Muito longe disto, já que "eles aceitaram o conselho de matar Lázaro", assim como seu Mestre! Fora, então, com a imaginação irreal, de que aqueles que "não ouviram Moisés e os Profetas, seriam persuadidos, embora um ressuscitasse dos mortos!".
7. Disto tudo, podemos traçar esta conclusão geral. Esta permanente revelação é o melhor meio da convicção racional; muito mais preferível a quaisquer daqueles meios extraordinários, que alguns imaginam fariam mais efeito. Portanto, é nossa sabedoria beneficiarmo-nos disto; fazer uso completo dela; de maneira que possa ser uma lanterna para nossos pés, e uma luz em todos os nossos passos. Vamos cuidar que todo nosso coração e vida estejam confortáveis nisto; que isto seja a constante regra de todos os nossos temperamentos, todas as nossas palavras, e todas as nossas ações. Assim poderemos preservar em todas as coisas o testemunho de uma boa consciência em direção a Deus, e, quando nosso curso estiver terminado, nós também seremos "levados pelos anjos ao seio de Abraão".
John Wesley
Birmingham, 25 de Março de 1788
O apostolo diz no seguinte capítulo: “Hoje…. muito tempo depois” (Hebreus 4:7), e vou me deter nessas palavras: “muito tempo depois”. Vejo que alguns de vocês ostentam carecas e exibem abundantes cãs. Se vocês não são convertidos, o Espírito Santo bem diz: “Hoje, muito tempo depois, ouçam sua voz”. Já não é suficiente tempo ter provocado a seu Deus nesses sessenta anos? Varão, não é suficiente setenta anos de pecado? Talves quase tenha cumprido seus oitenta anos, e ainda resiste às insinuações da misericórdia divina. Uma velhice desprovida da graça não é de fato uma permanente provocação ao Senhor? Quanto tempo você pretendo provocá-lo? Quanto tempo passará antes que creia Nele? Você teve tempo suficiente para ter descoberto que o pecado é uma loucura e que os prazeres que produz são vaidades. Certamente você teve tempo suficiente para ver que se você deve ter paz não deve encontrá-la no caminho do pecado. Quanto tempo você ainda pretende ficar em terreno proibido e perigoso? Pode ser que não disponhas de outro dia, ó ancião, poderia ser que não te seja concedido outro dia para que provoques a teu Deus. “Muito tempo depois”, com sagrada urgência gostaria de lhe exortar: “Se ouvires hoje Sua voz”. Eu espero não ser o único que lhe suplica, mas confio que o Espírito Santo também lhe diga em sua consciência: “Hoje, esteja atento à voz do Senhor”.
“Hoje”, isso é, especialmente enquanto o Espírito Santo está conduzindo a outros a ouvir e a achar misericórdia; hoje, enquanto as chuvas estão caindo, hoje, recebe as gotas da graça; hoje, enquanto orações sejam oferecidas por você; hoje, enquanto os corações dos piedosos se preocupam por você; hoje, enquanto o escabelo do trono dos céus está molhado com as lágrimas dos que te amam; hoje, não vá a ser que a lerdeza se apodere de novo da igreja; hoje, não vá ser que a pregação da palavra de Deus se converta em um assunto de rotina, e o próprio pregador, sem coração, perda todo o zelo por sua alma; hoje, enquanto tudo seja especialmente propício, ouça a voz de Deus. Enquanto o vento sopra, ice a vela; enquanto Deus se ocupa em missões de amor, sai a encontrá-lo. Hoje, enquanto não está inteiramente endurecido, enquanto resta uma consciência em seu interior; hoje, enquanto tenha uma última olhada para a casa de seu Pai, ouve e viva; não seja que, por menosprezar sua presente ternura, jamais regresse, e sejas abandonado à espantosa indiferença que prelude à morte eterna. Hoje, vocês, jovens, que acabam de chegar a essa cidade contaminante, antes que se afundem em suas torrentes de lascívia; hoje, enquanto tudo lhes é útil, ouçam a amorosa, terna e insinuadora voz de Jesus, e não endureçam seus corações.
O texto parece-me muito evangélico quando diz: “hoje”, pois, o que é isso senão outra forma de declarar a doutrina desse bendito hino –
“Tal como sou, sem nenhum pretexto?”
Hoje, quer dizer, nas circunstâncias, pecados e misérias nas que se encontra agora, escute o Evangelho e o obedeça. Hoje, já que se percebeu nesse assento da igreja, ouve a voz da misericórdia de Deus nesse preciso assento. Hoje, você que não jamais se preocupou antes, enquanto Deus fala, preocupe-se. “Ah” – você diz – “se vivesse em outra casa”. Você é chamado hoje, ainda que esteja vivendo com os piores pecadores. “Eu irei prestar atenção uma vez que tenha desfrutado desse prazer pecaminoso que prometi a mim mesmo na próxima quarta feira”. Ah, se é pecaminoso, foge dele, pois poderia constituir um momento decisivo em sua história e sela a ruína de sua alma. “se ouvires hoje Sua voz”. “Ah, se eu tivesse frequentado umas quantas reuniões adicionais de avivamento e se tivesse sentido em um melhor estado, eu obedeceria”. Não é assim que está escrito, pecador; não é assim. Não me é dito que pregue o Evangelho aos que estejam prontos para recebê-lo nem que eu lhes diga: “Aquele que crer e for batizado, será salvo, sempre quando já estiver preparado em alguma medida para crer”. Não, antes, devo entregar-lhe a mesma mensagem a toda criatura que esteja aqui. Em nome de Jesus de Nazaré, que também é Deus Todo poderoso à destra do Pai, creiam Nele e vocês viverão, pois Sua mensagem para vocês é para hoje e não admite nenhuma demora. “Porem eu tenho que me reformar, tenho que me emendar, e depois irei pensar em crer”. Isso é colocar o efeito antes da causa. Se ouvisse Sua voz, a reforma e a emenda virão para você, mas você não deve começar com elas como o primeiro passo. A voz de Deus não diz isso, mas sim que diz: “Crê no Senhor Jesus Cristo”. Ó, ouça essa voz.
Tenho que ocupar um momento para mostrar-lhes por que o Senhor diz em misericórdia: “Hoje”. Por acaso você não se deu conta de que outras pessoas morrem? Por que você não deveria de morrer? Durante o desenvolvimento desses serviços várias pessoas partiram. Ao regressar para casa, surpreendi-me quando fiquei sabendo de quantos eu teria lhes prognosticado uma longa vida e morreram recentemente. Por que você não poderia morrer logo? “Eu sou forte e estou são”, alguém responde. Normalmente os que morrem de pronto não os homens robustos. Pareceria ser como se a tormenta passasse por cima dos fracotes que se dobram diante dela como juncos e assim escapam de sua fúria, enquanto que os de vigorosa saúde, tal como poderosas árvores do bosque, resistem a tormenta e são arrancados pela raiz por ela. Com que frequência a morto logo chega justo quando menos a esperávamos. “Se ouvires hoje sua voz”. Lhes farei a mesma pergunta que esse santo homem, o sr. Payson, lhes faz aos que despertaram. Ele os pergunta: “você gostaria de fazer o seguinte acordo: você encontrarás a Cristo no fim do ano, mas a prolongação de sua vida até então dependerá da vida de uma outra pessoa? Escolhe ao homem mais vigoroso que você conheça, e suponha que todo o relacionado ao bem estar eterno haverá de depender de que essa pessoa viva para ver o seguinte ano. Com que ansiedade vocês se inteiraria da enfermidade dessa pessoa e que preocupado estaria por sua saúde! Bem, pecador, você coloca em risco sua salvação apostando sua própria vida, por acaso isso é algo mais seguro? Se você está adiando e postergando seu arrependimento, por que deveria estar mais seguro sobre sua própria vida do que estaria se tudo dependesse da vida de outra pessoa? Não sejam tão néscios a ponto de brincar com suas vidas até chegar à tumba, e para brincar com suas almas até chegar ao inferno. Vocês não apostariam sua fortuna aos dado, como o jogador enlouquecido faz, e, no entanto, vocês estão apostando a eternidade de sua alma sobre algo que é muito incerto, pois não sabem se ao dormirem essa noite se despertarão amanhã em sua cama ou no inferno. Vocês não sabem se a seguinte respiração que dão de fato virá, e se não viesse seria lançados para sempre da presença de Deus. Ó senhores, se vocês querem jogar jogos de azar, apostem seu ouro ou apostem suas reputações, mas não coloquem em perigo suas almas. As apostas são demasiadamente arriscadas para qualquer um exceto para os que enlouqueceram pelo pecado. Não arrisquem suas almas, eu lhes imploro, correndo a mercê de que viverão outro dia, antes, escutem hoje a voz de Deus.
IV. Tenho pouco tempo para meu último ponto, mas ainda assim devo ter espaço para ele ainda se eu chegasse a retê-los mais além do tempo acostumado de saída. O último ponto é esse: O PERIGO ESPECIAL que o texto nos indica: “Se ouvires hoje sua voz, não endureçais vossos corações”. Esse é o perigo especial. E como se incorre nele? Quando as pessoas sentem uma preocupação por suas almas, seu coração é em certa medida abrandado, mas eles podem endurecê-lo facilmente, primeiro, reincidindo voluntariamente em sua anterior indiferença, sacudindo de si o medo, e dizendo em obstinada rebelião: “Não, não irei aceitar nada disso”. Uma vez preguei em certa cidade, e fui hospede de um cavaleiro que me tratou com grande amabilidade, mas na terceira ocasião em que eu preguei, notei que ele subitamente abandonou o salão. Um de meus amigos o segui fora do local e lhe perguntou: Por que você saiu do serviço?”. “Porque” – ele respondeu – “eu creio que se eu tivesse ficado lá por mais um momento eu teria sido convertido, pois senti que uma grande influência estava se apoderando de mim; mas isso não me conviria; você sabe o que eu sou, e isso não me seria conveniente”. Muitas pessoas são assim. Elas são modeladas por um tempo pela sincera palavra que escutam, mas tudo é em vão; o cão volta a seu vômito, e a porca lavada a revolver-se na lama. Isso é endurecer seu coração e provocar ao Senhor.
Uma maneira comum de provocar a Deus e de endurecer o coração é a indicação pelo contexto. “Não endurecei vossos corações como na provocação, no dia da tentação do deserto”, cabe dizer, pela incredulidade, dizendo: “Deus não pode me salvar, Ele não é capaz de perdoar-me; o sangue de Cristo não pode me limpar, sou um pecador muito negro para que a misericórdia de Deus trate comigo”. Isso é uma cópia do que os israelitas disseram: “Deus não pode introduzir-nos em Canaã; Ele não pode vender os filhos de Anaque”. Ainda que pudessem considerar a incredulidade como um pecado leve, ele é o pecado dos pecados. Que o Espírito Santo os convença dele, pois “Quando o Espírito da verdade venha, convencerá o mundo de pecado”, e especialmente de pecado, “porquanto não creem em Jesus”. “O que não crê, já está condenado, por que não há crido…. no Filho de Deus”; é como se todos os demais pecados fossem insignificantes em seu poder para condenar em comparação com o pecado da incredulidade. Ó, portanto, não duvide de meu Senhor. Vem, você que é o pecador mais negro e o mais imundo que está fora do inferno, pois Jesus pode te limpar. Vem, você, pecador de coração duro como o granito, você, cujos afetos estão tão congelados como um iceberg, de forma que nem uma só lágrima de penitência brota de seus olhos, pois o amor de Jesus pode abrandar seu coração. Crê Nele, crê Nele, pois do contrário você está endurecendo seu coração contra Ele.
Alguns endurecem seus corações pedindo mais sinais. Isso equivale também a imitar os israelitas. “Deus nos deu o maná, pode dar-nos água? Ele nos deu água saída da rocha, Ele pode nos dar também carne? Ele pode dispor uma mesa no deserto?”. Depois de tudo o que Deus tinha feito, eles queriam que realizasse mais milagres ou de outra forma não creriam. Que nenhum de nós endureça seus corações dessa maneira. Deus tem feito para os homens um milagre que transcende a todos os demais, e é em verdade um compêndio de todas as maravilhas: Ele deu a seu próprio Filho tomado de Seu peito para que se fizesse homem e para que morresse pelos pecadores. O pecador que não se contenta com essa demonstração da misericórdia de Deus jamais ficará satisfeito com nenhuma prova dela. Cristo no madeiro está no lugar de todos os milagres na dispensação do Evangelho; se não creem a Deus que “de tal maneira amou ao mundo que deu a seu Filho Unigênito, para que todo aquele que Nele crer não se perda, mas tenha vida eterna”, então nunca crerão. “ó, mas eu quero sentir; eu quero que a influência que abunda venha sobre mim de uma forma estranha; quero sonhar de noite, ou ver visões de dia”. O que você quer? Você está endurecendo seu coração; você está rejeitando o que Deus dá em verdade, e está pedindo-lhe que faça o papel de seu lacaio, e que te dê o que seu petulante orgulho quer. Ainda que tivesse essas coisas você não creria mais. Aquele que tem a Moisés a aos profetas e os rejeita, não creria ainda que alguém viesse dos mortos. Cristo na cruz está diante de você, não o rejeite, pois se o faz, nenhuma outra coisa poderia convencer-te, e ai deve de permanecer endurecendo seu coração na incredulidade.
Os que presumem da misericórdia de Deus e dizem: “Bem, podemos nos converter quando queiramos”, também endurecem seus corações. Ah, descobrirão que a realidade é algo muito diferente. “Só temos que crer e ser salvos”. Sim, mas descobrirão que “só temos que crer” é algo muito diferente do que imaginavam. A salvação não é nenhum jogo de crianças, acreditem em mim. Eu fiquei sabendo de alguém que despertou uma manhã sendo famoso, mas vocês não encontrarão a salvação dessa forma. “O que busca acha; e ao que chama, se lhe abrirá”.
Endurecem seus corações se vocês submergem nos prazeres mundanos; se permitem que falem com vocês companheiros dissolutos; se nesse dia de Domingo vocês se entregam a práticas ociosas, ou prestam atenção a um júbilo que não é santo. Muitas consciências ternas são endurecidas pela companhia dos que lhe rodeiam. Uma jovem dama ouve um poderoso sermão, e Deus o abençoou para ela, mas no dia de manhã sai para passar a noite em meio de cenas de leviandade; como el